“A verdadeira prática meditativa é como nós vivemos nossas vidas de momento a momento” (Jon Kabat Zinn).
Jon Kabat Zinn publicou um livro que revolucionou a psicologia e a medicina, chamado Full Catastrophe Living. Este livro, até os dias atuais sem tradução para o português, talvez tivesse o título traduzido como Vivendo a Catástrofe Completa. O que este livro fez para revolucionar a psicologia e a medicina foi trazer a antiquíssima tradição da meditação como um componente comprovado para a saúde física e mental.
O livro, é claro, é excelente, mas é bastante técnico em alguns momentos e notamos que às vezes ele se dirige para o público que lida com a ciência e que tem a tendência de ser cético e de duvidar de tudo. Por isso, em certo sentido o livro não se destina a qualquer leitor como o faz um outro livro de Kabat Zinn, Wherever you go, there you are.
Este último foi traduzido em Portugal como Aonde quer que eu vá. Entretanto, a tiragem parece ter sido pequena e encontra-se esgotado. Por aqui não foi publicado. E, infelizmente, até hoje, não temos uma versão em Ebook Kindle. Há tiragens em capa dura e mole e em Audiobook.
Aonde quer que você vá, lá você está
Outra tradução para o título poderia ser: “Aonde eu for, aqui (ou lá) eu estou”. Bem, o objetivo deste texto é divulgar este trabalho de Kabat Zinn que não é tão conhecido como o Full Catastrophe Living. Para quem se interessa pela Mindfulness Psychology, pela Psicologia da Atenção Plena, creio que este é o melhor livro para começar. Isto porque o público-alvo do livro é realmente qualquer pessoa. Ele mostra o que é uma prática de mindfulness e o que não é, além de termos a impressão de que ele está falando também a partir de sua experiência pessoal.
Logo no início, ele explica o que é meditação:
O que é meditação?
Quando falamos de meditação, é importante que se saiba que não se trata de uma atividade enigmática e estranha. Não envolve tornar-se numa espécie de zumbi, vegetal, egocêntrico narcisista, centrado no seu umbigo, seguidor de um culto, devoto, místico, ou filósofo oriental. A meditação é simplesmente acerca de ser você mesmo e saber algo sobre quem você é.Trata-se de começar a perceber que você está num caminho, quer aprecie ou não, ou seja, esse caminho é a sua vida. A meditação pode ajudar a ver que esse caminho a que chamamos de nossa vida tem direção, que está sempre em mudança, momento a momento; e que o que acontece agora, neste momento, influencia o que acontece depois.
A meditação significa aprender a sair dessa corrente, a parar, a senti-la e a ouvi-la, aprender com ela, e depois usar as suas energias para nos guiar, em vez de nos tiranizar. Este processo não acontece magicamente por si só. É preciso energia. Chamamos ao esforço para cultivar a nossa capacidade de estar no momento presente de “prática” ou “prática de meditação.”Se ainda não notou, tende a haver uma corrente de pensamentos e emoções que fluem através das nossas mentes praticamente a cada segundo das nossas vidas (O meu palpite é que já deve ter-se apercebido).Pense na corrente de pensamentos e sentimentos como um rio. Às vezes suave e às vezes como uma cachoeira, transbordando e em plena de fúria. Um dos principais objetivos da meditação é ajudar-nos a aprender a sair dessa corrente e a observá-la a partir da costa. E, à medida que praticamos e observamos … sair da corrente e observar … sair da corrente e observar … Fortalecemos os músculos da nossa mente e por isso temos mais probabilidade de controlar qualquer emoção (seja impaciência, raiva ou vergonha) que ameace arrebatar-nos.
Qualquer um pode meditar?
Segundo o autor, esta é uma das perguntas que ele constantemente escuta. Tendo como pressuposto de que a meditação não significa deixar a mente em branco, totalmente silenciosa, ou atingir este ou aquele estado, ou conseguir relaxar o corpo e a mente, a resposta é que as pessoas fazem esta pergunta pensando que elas mesmas não conseguem ou conseguiriam meditar.
A verdade é que a prática meditativa não tem um objetivo de tirar-nos da onde estamos (daí o título do livro). O objetivo, se podemos falar em objetivo, é fazer com que percebamos o que está acontecendo aqui e agora. Como se fossemos crianças e estivéssemos curiosos para saber: O que estamos pensando? O que estamos sentindo? O que está acontecendo no nosso corpo, quais sensações estão presentes?
Nesse sentido, estar mindful, estar atento plenamente, significa manter a consciência presente ao longo do tempo: agora… e agora… e agora… e agora…
Perceber que não estamos com a atenção aqui, que ela foi para outro lugar, é um estado mindful na medida em que percebemos que não estávamos atentos por um instante. Ou seja, no fundo, se trata de estar atento ao que quer que aconteça, ainda que seja até o fato de termos perdido por alguns momentos a atenção.
O que é concentração?
Kabat Zinn afirma:
A concentração é a pedra fundamental das práticas de mindfulness. A sua atenção plena será tão robusta quando a capacidade da sua mente de se manter calma e estável
Esta frase não contradiz o que dissemos acima. Com o tempo, a capacidade de estar mais atento ao que for que acontecer se amplia. Se antes conseguíamos ficar alguns poucos segundos atentos e o nosso antigo hábito de voltar a viver em piloto automático retornava rápido e forte, com as práticas conseguimos ampliar o tempo em que a atenção está presente, até virtualmente conseguirmos ficar atentos a tudo o que fazemos.
Ou seja, se estamos comendo, estamos atentos que estamos comendo. Se estamos lendo, estamos atentos, se estamos tomando banho, estamos tomando banho e assim por diante.
Você pode pensar na concentração como a capacidade da mente de se manter atenta em cada objeto de observação. A concentração é cultivada ao termos atenção a uma única coisa, tal como a respiração e limitando o foco para esta única coisa.
Em sânscrito, a concentração é chamada de samadhi, ou um-único-ponto (onepointedness). O samadhi é desenvolvido ao aprofundarmos continuamente a prática de trazer de novo a atenção de volta para a respiração a cada vez que ela tenha dispersado.
Ao praticar formas de meditação de concentração, nós deixamos de questionar para onde a mente foi quando se dispersou ou a qualidade da flutuação da respiração. Nossa energia é tão somente dirigida para a experiência da inspiração e da expiração, ou qualquer outro objeto de foco para a atenção. Com a prática constante, a mente tende a se tornar melhor e melhor em se manter na respiração, ou notar o mais pequeno impulso de se distrair com alguma outra coisa.
Oi Felipe, algo de novo onde conseguir este livro?
Eu comprei no iBooks!