Conheça neste artigo a história do desenvolvimento da Mindfulness Psychology – a 3° Corrente da Terapia Cognitivo-Comportamental
Olá amigos!
As descobertas que vamos fazendo quando começamos a estudar um novo campo de estudos são fascinantes! Por exemplo, quando comecei a estudar a psicologia cognitiva de Aaron Beck – e que é uma das vertentes da chamada terapia cognitivo-comportamental – descobri que as pesquisas iniciais de Beck sobre depressão haviam começado tentando provar as teses de Freud sobre luto e melancolia!
É incrível descobrir informações deste tipo porque na faculdade de psicologia vemos as “briguinhas” bobas entre as abordagens.
Outra surpresa para mim foi descobrir que a Mindfulness Psychology é incluída como a terceira corrente das psicologias cognitivo-comportamentais. No princípio dos meus estudos, simplesmente, não vi muita relação, mas tenho passado a entender cada vez mais a ponte que pode ser feita de uma psicologia cognitivo-comportamental baseada em Mindfulness.
História da Mindfulness Psychology
Veja também – O que é Mindfulness?
Segundo consta, o médico John Kabat-Zinn tinha experiência com praticas meditativas budistas da linha Theravada, a linha considerada mais antiga e tradicional. Percebendo o sofrimento dos seus pacientes com dores crônicas e stress devido à doença, ele criou um programa que incluía praticas meditativas.
Importante notar, Kabat-Zinn retirou toda conotação religiosa e, deste modo, orientava os seus pacientes apenas a fazer as praticas que, nesse sentido, não necessitam mesmo de se acreditar em Buda, reencarnação, Karma, etc.
Por exemplo, uma das técnicas mais utilizadas consiste em observar atentamente a respiração por períodos de 3 minutos até 45 minutos ou 1 hora. Não é necessário acreditar em nada relacionado ao budismo. Basta praticar um pouco para perceber o funcionamento da própria mente: as divagações pelo futuro ou passado, a evitação de experiências classificadas como ruins (uma coceira, uma dor), os estados emocionais, a mudança constante de sensações…
Com as experiências de aplicação destas praticas meditativas em um contexto laico e com fins de saúde, ficou comprovado empiricamente (e através dos relatos dos pacientes) que o programa de Kabat-Zinn funciona para diminuir o stress, a ansiedade, a dor, ao ampliar a capacidade do paciente de voltar a sua atenção – sem julgar – para o que está acontecendo aqui e agora.
O programa de Kabat-Zinn chamado de MBSR (Mindfulness Based Stress Reduction) é em grupo e tem duração de 8 semanas, em virtude do limite de tempo dos planos de saúde americanos. De toda forma, o padrão de 8 semanas têm sido seguido no mundo a fora.
Passemos agora para a história das terapias comportamentais.
Terapias comportamentais e Mindfulness
Segundo o artigo de Luc Vandenghe e Ana Carolina Aquino de Souza, intitulado Mindfulness nas terapias cognitivas e comportamentais:
“O movimento da terapia comportamental conheceu três ondas. Na primeira, o modelo clássico pautado na teoria pavloviana, técnicas de exposição dominam o tratamento. Representantes atuais da terapia comportamental clássica, como os programas de tratamento para transtornos de ansiedade usando exposição ao vivo, têm apoio empírico importante (Eysenck, 1994)” (Vandeberghe, 2006)”.
Sobre a segunda corrente ou linda da TCC, dizem os autores:
“A segunda onda se caracterizou pelo modelo cognitivo racionalista, com base em processos psicológicos mediados por sistemas de crenças subjacentes. São as terapias cognitivo-comportamentais argumentativas, cuja área de aplicação mais tradicional é a dos transtornos de humor ” (Vandeberghe, 2006).
Nesta chamada segunda onda, podemos incluir os trabalhos de Aaron Beck sobre depressão, que elucidaram a importância dos pensamentos e das crenças na eliciação de estados emocionais (negativos ou positivos).
“A terceira onda prima pela procura de epistemologias alheias, como o construtivismo cognitivo, releituras contextualistas do behaviorismo radical, ou vários novos modelos cognitivos mais interativos e menos lineares. É pautada numa visão contextual de eventos privados e relações interpessoais (Kohlenberg, Tsai & Dougher, 1993; Linehan, 1993; Hayes, 2004), diferente das tentativas diretas de modificar pensamentos e sentimentos, como foi a prática das duas ondas anteriores. Um princípio central nas terapias da terceira onda é que pensamentos não devem controlar diretamente a ação.
A pessoa deveria agir de acordo com seus valores, algo muito mais intuitivo. A racionalidade implacável é objeto de desconfiança (Hayes, Pankey & Gregg, 2002).
A noção de mindfulness é claramente coerente com estas preocupações e foi bem recebida pelas vertentes da terceira onda, tanto na ala cognitiva quanto na comportamental” (Vandeberghe, 2006).
Conclusão
Nos próximos textos, falaremos mais a respeito das linhas das terapias comportamentais que são baseadas em Mindfulness, especialmente a ACT (Acceptance and Commitment Therapy) e a Terapia Comportamental Dialética.
Olá, parabéns pelo texto. Só uma pequena correção: Kabatt-Zinn não é médico. O PhD dele no MIT foi em biologia molecular. Abraços
Olá Carlos,
Engraçado, procurei bastante sobre a graduação do Kabat-Zinn e não encontrei. Somente encontrei o Phd, em biologia molecular, mas não a graduação. Talvez a confusão da medicina resida no fato de que ele se tornou professor em diversas faculdades de medicina ao longo dos anos.
Atenciosamente,
Felipe de Souza