Simplesmente Respire – Mindfulness

A inspiração para “Just Breathe” (Simplesmente Respire) veio inicialmente há um pouco mais de um ano, quando eu ouvi meu filho, então com 5 anos de idade, conversando com um amigo sobre como as emoções afetam diferentes partes do cérebro, e como se acalmar através da respiração profunda – coisas que eles estavam começando a aprender no jardim de infância em sua nova escola, “Citizens of the World Charter School”, em Mar Vista, California. Eu me surpreendi e fiquei muito feliz de testemunhar em primeira mão como o aprendizado social e emocional na educação infantil estava sendo significativo para aquelas pequenas mentes. No ano seguinte, eu decidi fazer o curso online de seis semanas de Mindfulness (atenção plena) através da Mindful Schools, imaginando que, se meu filho estava aprendendo isso, fazia sentido que eu aprendesse também. Já na primeira semana eu senti os efeitos positivos da prática se enraizarem não só no meu ser mas na minha relação com os outros.

Como cineasta, eu estou sempre interessada em encontrar um assunto que valha a pena ser filmado, e eu realmente acho que Mindfulness (atenção plena) é um conceito necessário de ser comunicado visualmente. Meu marido concordou. Nós fizemos “Just Breathe” com o nosso filho, seus colegas de classe e suas famílias em uma tarde de sábado. O video é inteiramente sem script – o que as crianças falaram é baseado puramente no próprio entendimento neurocientífico delas sobre emoções difíceis, e como elas lidam através da respiração e meditação. E eles estão ensinando a nós todos…”(Julie Bayer Salzman)

O que é a Terapia da Aceitação e Compromisso?

“As artimanhas que usamos para escapar da aflição nos desviam de nossos objetivos de vida. E é por eles que vale a pena viver” (Steven Hayes). 

Olá amigos!

Aqui no site já falamos algumas vezes sobre a ACT (Acceptance and Commitment Therapy), a Terapia da Aceitação e Compromisso em textos sobre conceitos específicos, mas ainda não fizemos um texto geral sobre o que é a esta nova terapia e quais são os seus objetivos e a sua história. Este texto de hoje visa preencher esta lacuna.

O que é a ACT – Terapia da Aceitação e Compromisso?

Durante a década de 1980, Steven C. Hayes estudou a fundo a psicologia comportamental, especialmente os chamados comportamentos complexos, ou seja, o comportamento governado por regras e a equivalência de estímulos, bem como o que chamamos de pensamentos, sentimentos e sensações.

Em 1999, com Kelly Wilson e Kirk Strosahl, Hayes publicou o primeiro Manual da ACT: Acceptance and cometimento therapy: an experiential approach to behavior change, que podemos traduzir como: terapia de aceitação e compromisso: uma abordagem experiencial para a mudança comportamental.

Bases da ACT

Em virtude dos seus estudos dentro da psicologia comportamental, Hayes argumenta que devemos sempre pensar o comportamento tendo em vista o contexto no qual ele ocorre, o que é bastante parecido com a teoria behaviorista, mas com um adendo: o contexto não se refere apenas ao ambiente imediato, engloba também a história do indivíduo. Cada pessoa reage ao ambiente tendo em vista o contexto de sua história particular.

Além do contextualismo funcional, a ACT funda-se sobre o pragmatismo que defende o argumento de que a verdade é o que funciona, o que dá certo.

ACT e Psicopatologia

Existem diversos modelos de psicopatologia, modelos sobre os trastornos ou doenças mentais. A ACT busca descrever e mudar o que é o fundamento de toda psicopatologia, ou seja, o sofrimento (pathos). E, nesta abordagem, o sofrimento é sempre uma forma de inflexibilidade psicológica.

Em outras palavras, inflexibilidade psicológica é a diminuição da capacidade de ação, da capacidade de se comportar de maneiras variadas. Há, portanto, uma restrição comportamental.

Por exemplo, uma pessoa ao contar uma história para seus amigos é criticada. Devido à esta experiência dolorosa, ela associa o falar em um grupo como algo a ser evitado e, logo deixa de falar toda vez que encontra-se em grupo.

Há o contexto (o grupo) e a história (um momento de crítica) que leva ao sofrimento que poderia ser diagnosticado como uma fobia social. Ora, este sofrimento é um exemplo de inflexibilidade psicológica. A pessoa deixa de emitir um comportamento que gostaria de emitir. E cria-se um círculo de sofrimentos. Imagina que se falar, será de novo criticada. Por não falar, se critica. Por se criticar, sofre mais ainda e assim por diante.

Fusão cognitiva

Em outro texto, leia aqui, falamos sobre desfusão ou defusão cognitiva. A fusão cognitiva acontece quando os pensamentos são tomados como coisas reais, como verdades, como fatos. Retomando o exemplo acima, esta pessoa pode vir a pensar algo como “não sei dizer nada de interessante”, “ninguém se interessa por mim”, “todos devem estar pensando que eu sou um(a) imbecil”, etc.

Estes são pensamentos. Apenas pensamentos. Não se referem necessariamente à realidade, mas podem parecer que sim quando há a fusão cognitiva.

A inflexibilidade psicológica relaciona-se como a fusão cognitiva, mas também com outros fatores como evitar se expor a situações um pouco desagradáveis mas que permitiriam atingir os próprios objetivos, deixar de fazer algo porque “não se sente bem” ou porque atribui-se a causa do comportamento às emoções (dar razão) ou avaliações equivocadas, ou seja, relacionar eventos comparando-os e fixando uma única perspectiva (em geral negativa).

Hexágono da flexibilidade psicológica

Se a causa fundamental do sofrimento está na inflexibilidade psicológica, o grande objetivo da Terapia da Aceitação e Compromisso é, portanto, aumentar a flexibilidade psicológica, através de seis intervenções básicas, o hexágono da flexibilidade psicológica:

1) Momento presente

É curioso observar que não existem dois momentos que se repetem, certo? Cada momento é um momento único, irrepetível. Razão pela qual estamos sempre lidando com novidades, como novos fenômenos, novas pessoas, novos dias.

A observação do agora, do momento presente, permite entender que tudo é novo e que o que aconteceu há uma semana, um ano ou dez anos aconteceu lá e passou. O que vai acontecer daqui para frente não vai ser igual, aliás, pode ser totalmente diferente.

2) Aceitação

Não podemos controlar todas as nossas sensações e sentimentos. Quando queremos evitar sentir certas sensações e sentimentos, passamos a restringir o nosso comportamento. Uma vida significativa, na qual os valores pessoais são realizados, implica na vivência de sensações e sentimentos nem sempre agradáveis.

Na medida em que não podemos controlar o que se passa nesse nível da nossa experiência, temos que aceitar e focar a nossa atenção no que podemos fazer. Afinal, o comportamento não é determinado pelos sentimentos.

Uma pessoa pode sentir medo ou ansiedade e agir. Vivendo mais no presente e aceitando a presença de sensações físicas não muito agradáveis, veremos que as sensações são transitórias. Elas passam e por isso deixar de agir por não querer sentir um pouquinho isso ou aquilo vai limitar em muito o nosso campo de ações e os nossos resultados.

3) Valores

Falamos no tópico anterior em aceitação. O nome da terapia, terapia da aceitação e compromisso, envolve não só a aceitação e o momento presente como o compromisso com os nosso valores pessoais. Cada um de nós valoriza algo mais do que outro. A ACT possui diversas técnicas para que cada um possa descobrir os seus valores mais importantes e, portanto, encontrar o seu porquê, o que motiva a continuar indo em busca de seus objetivos.

4) Ações com compromisso

Claro que saber apenas o que valorizamos não é suficiente. Precisamos agir. Dai o acrônimo ACT (em inglês significa agir ou aja!). Tendo em vista os valores e objetivos, podemos então passar a agir de acordo com eles, com o compromisso conosco de alinhar os comportamentos com o que realmente queremos e valorizamos.

Não precisamos começar com algo grandioso. Apenas dando o próximo passo e o próximo passo na direção certa.

5) Desfusão cognitiva

A nossa mente é fantástica. Nos permite realizar milhões e milhões de ações. Entretanto, um dos mecanismos evolutivos, o de nos proteger de perigos, nem sempre é eficaz. Assim, pensamos o que pode acontecer de ruim, o que pode dar errado, desgraças e tragédias e tudo o mais. Isso não é algo antinatural ou psicopatológico em si. O mecanismo de luta e fuga está presente em todos nós.

A questão é não nos limitarmos por estes alarmes e alertas desse mecanismo, que na maior parte das vezes é exagerado. E podemos fazer isso nos separando dos pensamentos que temos. Um pensamento é só um pensamento, não é um fato, não é a verdade última.

Uma técnica simples é dizer para o pensamento: “Oi pensamento X – Obrigado pensamento e – tchau pensamento”. Ou seja, reconhecemos o conteúdo do pensamento. Agradecemos por nossa mente ter trazido este pensamento e nos despedimos dele, afinal, se é um pensamento que nos afasta dos nossos valores e objetivos, não será de utilidade.

6) Self como contexto

E, por fim, na ACT encontramos o conceito do Self como contexto. Quando nos afastamos dos pensamentos, percebemos que não somos o que pensamos. Somos a consciência, a observação do que está acontecendo agora: imagens externas, sons, sensações, emoções, pensamentos. Se fossemos nossos pensamentos, deixaríamos de existir nos segundos em que conseguimos ficar em silêncio…

Quem desejar estudar mais a fundo ACT, pode fazer o Curso do Russ Harris, online, neste link:

ACT – Training Online Made Simple (em inglês).

Dúvidas, sugestões, comentários, por favor, escreva abaixo!

Referência Bibliográfica

Capítulo: O que é Terapia de Aceitação e Compromisso. Autora: Michaele Terena Saban. Livro: Terapias Comportamentais de Terceira Geração. Guia para profissionais. Editora Sinopsys. 

Apps para a Prática de Mindfulness

Descubra os melhores Apps para Praticar Mindfulness, para iOS e Android, gratuitos e pagos. 

Olá amigos!

Neste texto, vamos divulgar os melhores Apps para a Prática de Mindfulness e, à medida que surgirem novas opções, atualizaremos

1) Mindfulness

(português e espanhol)

Mindfulness se refere ao estado mental que emerge de prestar atenção ao momento presente com a intenção, sem julgar e incidindo sobre a experiência imediata.

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Esta aplicação pretende facilitar a prática da Mindfulness. Em particular, centra-se nos seguintes aspectos:

* Instrutor Virtual: orientar a prática através de sessões.
* Teste de nível de Mindfulness (Mindfulness Attention Awareness Scale), cientificamente validado.
* Ilustrações e vídeos para acompanhar prática.
* Práticas guiadas: suporte de vídeo.
* Práticas não-guiadas: controle tempo de meditação.
* Jornal de práticas.
* Estatísticas de saber o progresso da prática.
* Alarmes e lembretes.

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Este aplicativo é cientificamente apoiada por profissionais da psiquiatria e da psicologia.

Disponível para Android

– https://play.google.com/store/apps/details?id=es.eduqtech.mindfulness

Preço: R$ 7,92

2) Stop, Breathe and Think

(em inglês)

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Descrição: uma ferramenta simples e amigável para guiar pessoas de todas as idades e culturas através de práticas de Mindfulness e de Compaixão.

Stop: pare o que você está fazendo. Faça o Check in sobre como você está se sentindo e o que está pensando.

Breathe: respire. Pratique as técnicas de respiração para criar espaço entre os pensamentos, emoções e reações.

Think: aprenda a ampliar a sua perspectiva e fortalecer a paz e a calma ao praticar cada uma das meditações.

App disponível para iOS e Android – http://stopbreathethink.org

O app é gratuito, mas é possível contribuir com o projeto sem fins lucrativos comprando mais práticas (são baratas, menos de 5 dólares).

3) Buddhify

(em inglês)

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Este app ganhador de diversos prêmios possui 80 meditações guiadas, para utilizar a qualquer momento: trabalhando, viajando, em casa, indo dormir e muito mais.

Muito interessante as técnicas que destinam a treinar Mindfulness enquanto estamos online.

Disponível para iOS e Android – http://buddhify.com

Preço: 4,99 dólares

4) ACT Companion: the Happiness Trap App

(em inglês)

Este App foi criado por Russ Harris, autor do livro The Happiness Trap, que está traduzido no português como Liberte-se. Tecnicamente é um App da ACT, Terapia da Aceitação e do Compromisso, mas, na medida em que a ACT utiliza práticas de mindfulness, encontramos nesse App mais de 2 horas de práticas guiadas.

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Também é um App excelente por conter diversas técnicas para descobrir e elucidar os nossos valores pessoais.

https://www.youtube.com/watch?v=mWTuT0Tsz6w

 

Disponível para iOS e Android – http://www.actcompanion.com

Preço: 11,99 dólares

5) The Mindfulness App

(em inglês)

Texto do App: The Mindfulness App ajuda você a reduzir o stress e aumentar o bem-estar. Pesquisas científicas comprovam que uma prática regular de 20 minutos traz efeitos significativos. Tente você mesmo!

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Com o App, você estará sempre perto da paz interior e do alívio do stress. Devido aos seus benefícios e funções inteligentes o Mindfulness App subiu ao top das App Stores no mundo todo (em mais de 11 países).

Agora também inclui meditações de alguns dos maiores especialistas como  Jon Kabat-Zinn, Eckhart Tolle, Jack Kornfield, Pema Chodron, Sharon Salzberg e outros.

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O Mindfulness App pode ser usado por qualquer um, tanto por iniciantes como por praticantes experientes. É fácil de usar. Pode-se escolher diferentes tipos de meditação ou em silêncio. Você escolhe se deseja uma introdução ou por quanto tempo quer praticar.

Preço: 2,99 dólares –

https://itunes.apple.com/us/app/the-mindfulness-app/id417071430?mt=8

6) One-Moment Meditation

Sobre este App, escrevemos este post –

Sem tempo para praticar Mindfulness? Tem 1 minuto?

Conclusão

Como podemos ver, ainda existem mais opções em inglês do que em português. Se você tiver alguma outra sugestão de App, por favor, comente abaixo!

5 obstáculos para a prática de Mindfulness

“Nós chamamos o esforço de cultivar a nossa habilidade de estar no presente momento de prática ou prática de meditação mindfulness” (Jon Kabat-Zinn). 

Olá amigos!

Vemos atualmente uma grande divulgação sobre as práticas de Mindfulness. Quem já tiver realizado um Programa de 8 Semanas, um Workshop intensivo ou buscou por conta própria através de livros como os de Jon Kabat-Zinn ou Mark Williams, terá descoberto que

Realizar as práticas de Mindfulness é simples, mas não é fácil.

O objetivo deste post é mostrar porque esta frase tem sentido (e porque ela também não tem). Esta frase tem sentido – para muitos de nós ou durante certo tempo – porque existem obstáculos ou desafios para praticar.

Os 5 obstáculos para as práticas de Mindfulness

Todos os obstáculos abaixo pode ser sentidos durante ou antes das práticas, ou seja, podem também ser desculpas ou justificativas para não praticar.

1) Inquietude

Devemos entender que o objetivo primordial das práticas é aumentar a capacidade de estar atento ao momento presente, com aceitação e sem julgamentos.

Como o nosso estado emocional varia de um dia para o outro, em certos dias notaremos que há tranquilidade e em outros maior agitação.

Então, há a tendência de procurar fazer nos dias em que há maior tranquilidade e não fazer quando há maior agitação. Ou há a ideia de que quando fazemos e nossa mente encontra-se muito agitada, há algo errado e não estamos fazendo corretamente.

Tendo em vista – sempre! – que o objetivo é desenvolver a atenção ao que está ocorrendo agora, ficar desatento algumas vezes ou muitas não faz diferença. Devemos apenas notar que a nossa atenção se dispersou, quando dispersou, e voltar a atenção novamente para a âncora meditativa (a respiração, as sensações do corpo no Body scan, os passos na caminhada, etc).

2) Aversão

O que quer que apareça, enquanto estivermos praticando, será o que aparece. Em algumas práticas, notamos a predominância de sensações agradáveis, ou sentimentos e pensamentos agradáveis e voltamos a atenção novamente para o foco.

Entretanto, em outras sessões, é comum notar dores, desconfortos e incômodos. A aversão a observar com curiosidade estas sensações (ou pensamentos e sentimentos desagradáveis) é um dos obstáculos para continuar praticando.

Assim, devido à tendência de buscar prazer e afastar da dor, algumas pessoas associam tais vivências desagradáveis com as práticas e param de realizá-las. Também pode haver aversão de olhar para os próprios conteúdos mentais, normalmente vinculados ao senso de identidade.

3) Sonolência ou torpor

Sonolência ou torpor também podem aparecer durante as práticas de Mindfulness, especialmente em práticas que fazemos nos deitando (como o Body scan).

Se estivermos cansados e precisarmos descansar e dormir, podemos até utilizar uma prática de Mindfulness para dormir. Mas deve ficar claro que este não é o objetivo das práticas. De novo, o objetivo é treinar a atenção plena, estar mindful do que está acontecendo. Como dormindo perdemos a consciência e há o que os psicólogos chamam de rebaixamento do nível mental (abaissement du niveau mental), quando dormirmos não estamos praticado, por isso, a sonolência, o sono e o torpor são obstáculos a serem enfrentados.

Facilita fazer a prática escolhida de olhos abertos. Manter a mão um pouco levantada também ajuda, já que quando dormirmos a mão cai e nos desperta.

Mas o melhor é escolher um horário em que a sonolência seja mais improvável ou notar durante as práticas os pensamentos e julgamos que surgem nesse estado.

4) Desejo

O obstáculo definido como desejo tem muito sentidos. Algumas pessoas desejam que a meditação lhe traga benefícios imediatos. Outras desejam ter estados alterados de consciência, transcendência ou algum tipo imaginado ou ideado de iluminação.

Novamente, o objetivo das práticas de Mindfulness é treinar a atenção ao momento. Muitos estados psíquicos podem ocorrer no processo, mas ter um desejo de que isto aconteça (uma sensação incrível seja ela qual for) ou aquilo não aconteça (uma dor ou desconforto ou uma lembrança irritante) pode ser um obstáculo para continuar praticando.

5) Dúvidas

Dúvidas são obstáculos na medida em que podem impedir as práticas ou distrair a nossa capacidade de manter a atenção durante as mesmas. É interessante lembrar que a palavra dúvida surge da palavra dúbio, que, por sua vez, vem da palavra dois. Ou seja, quando duvidamos temos dois pensamentos, geralmente, conflitando.

Por exemplo, “eu consigo meditar ou eu não consigo meditar?”, “isso é assim mesmo ou não é assim?”, “devo fazer deste jeito ou não?”…

Quer dizer, dúvidas são apenas pensamentos sobre as práticas ou seus possíveis resultados e consequências. Por isso, ajuda muito fazer um Programa de 8 Semanas com um Instrutor qualificado. As dúvidas são dissipadas e deixam de ser um obstáculo para praticar, bem como os outros quatro obstáculos, inquietude, aversão, sonolência e desejo podem ser superados com a correta compreensão do que é Mindfulness.

Mindfulness é igual a budismo?

Será que praticar as técnicas de Mindfulness significa tornar-se budista?

Uma questão que sempre surge quando vamos falar de Mindfulness, de Atenção Plena, é a sua relação com o budismo e com o Oriente.

É verdade que as técnicas meditativas vem do oriente e mais especificamente do budismo. (Entretanto, também sabemos que estas técnicas são muito anteriores ao Sidarta Gautama, o Buda histórico, que diz ter aprendido as técnicas de concentração e atenção com outros mestres).

Mindfulness é igual a budismo?

Se considerarmos que o estado de atenção plena é uma função psíquica, um estado psicológico ou mental, não fará sentido designá-lo como budista ou hindu. Assim como não faz sentido dizer que os sonhos são freudianos, por exemplo.

Nas últimas décadas, devido às pesquisas científicas das Terapias Baseadas em Mindfulness, os benefícios sobre a prática de técnicas de Mindfulness e meditação tem se tornado mais claras. Isso acontece porque, até então, havia dúvida e receio da comunidade científica, especialmente da medicina e da psicologia, sobre os motivos pelos quais seriam indicadas as práticas, em virtude de sua origem supostamente religiosa.

Recomendo o vídeo Mindfulness veio do Budismo?, de Tiago Tatton:

Mindfulness e ciência

De acordo com Ausiàs Cebolla i Martí, as primeiras pesquisas científicas de Mindfulness foram realizadas por Jon Kabat-Zinn a fim de comprovar a eficácia do Programa MBSR, Mindfulness para redução do Stress, aplicado à dor crônica (1982) e à ansiedade (1995), embora já houvessem pesquisas sobre o zen e a meditação transcendental antes, é comum demarcar o início do crescimento e divulgação das práticas de Mindfulness com Kabat-Zinn.

Tais pesquisas tinham por objetivo investigar a eficácia das práticas em determinadas doenças e transtornos mentais. Somente em uma segunda etapa é que os objetivos visaram entender os mecanismos psicológicos que acontecem no processo. Esta segunda etapa é normalmente creditada a Zyndel Segal, John Teasdale e Mark Williams.

Para praticar Mindfulness, e estar atento ao momento presente, não precisamos acreditar em karma, reencarnação, na iluminação do Buda, etc. Sabendo que estar atento ao momento presente traz benefícios físicos e mentais, podemos aprender e treinar como ficar mais neste estado sem ter que adotar todas aquelas crenças.

A Yoga é uma boa analogia. Existem estúdios e academias que dão aulas de Yoga. A ideia é promover o bem estar físico, o alongamento, controle da respiração, etc. Para praticar e ter os benefícios não é preciso acreditar nos iogues da Índia…

As técnicas de Mindfulness, por serem laicas, podem atrair um número maior de ocidentais e ser utilizada em diversos contextos. Depois de conhecer as possibilidades, as pessoas podem (ou não!) buscar as origens nas tradições.

Conclusão

Portanto, Mindfulness não é igual a budismo ou para praticar as técnicas de Mindfulness não precisamos ser budistas ou adotar o budismo. Tendo isso claro, é interessante saber também que existem Programas de 8 semanas, parecidos com os delineados por Jon Kabat-Zinn, que são baseados no budismo, MBTB ou Mindfulness Baseado na Tradição Budista.

Veja o vídeo abaixo (em espanhol).

Entrevista Dokushô Villalba MBTB from CreaConcepto on Vimeo.

 

Dúvidas, sugestões, comentários, por favor, escreva abaixo!

Atenciosamente,
Felipe de Souza

Mindfulness: definição de Jon Kabat-Zinn

Jon Kabat-Zinn, um dos maiores especialistas em mindfulness no mundo ocidental, partilha conosco a sua definição operacional sobre o que é para ele mindfulness.

O que é o mindfulness? Por Jon Kabat-Zinn from Vasco Gaspar on Vimeo.

“A minha definição operacional de Mindfulness é: a consciência que emerge quando prestamos atenção de propósito no momento presente e sem julgamento” (Jon Kabat-Zinn)