O psicólogo Marcelo de Oliveira palestra sobre Mindfulness na Universidade Federal de Mato Grosso, explicando o que é, como a meditação é praticada e trazendo as mais recentes pesquisas científicas sobre a sua eficácia.
O psicólogo Marcelo de Oliveira palestra sobre Mindfulness na Universidade Federal de Mato Grosso, explicando o que é, como a meditação é praticada e trazendo as mais recentes pesquisas científicas sobre a sua eficácia.
Descubra os melhores Apps para Praticar Mindfulness, para iOS e Android, gratuitos e pagos.
Olá amigos!
Neste texto, vamos divulgar os melhores Apps para a Prática de Mindfulness e, à medida que surgirem novas opções, atualizaremos
Mindfulness se refere ao estado mental que emerge de prestar atenção ao momento presente com a intenção, sem julgar e incidindo sobre a experiência imediata.
Esta aplicação pretende facilitar a prática da Mindfulness. Em particular, centra-se nos seguintes aspectos:
* Instrutor Virtual: orientar a prática através de sessões.
* Teste de nível de Mindfulness (Mindfulness Attention Awareness Scale), cientificamente validado.
* Ilustrações e vídeos para acompanhar prática.
* Práticas guiadas: suporte de vídeo.
* Práticas não-guiadas: controle tempo de meditação.
* Jornal de práticas.
* Estatísticas de saber o progresso da prática.
* Alarmes e lembretes.
Este aplicativo é cientificamente apoiada por profissionais da psiquiatria e da psicologia.
Disponível para Android
– https://play.google.com/store/apps/details?id=es.eduqtech.mindfulness
Preço: R$ 7,92
Descrição: uma ferramenta simples e amigável para guiar pessoas de todas as idades e culturas através de práticas de Mindfulness e de Compaixão.
Stop: pare o que você está fazendo. Faça o Check in sobre como você está se sentindo e o que está pensando.
Breathe: respire. Pratique as técnicas de respiração para criar espaço entre os pensamentos, emoções e reações.
Think: aprenda a ampliar a sua perspectiva e fortalecer a paz e a calma ao praticar cada uma das meditações.
App disponível para iOS e Android – http://stopbreathethink.org
O app é gratuito, mas é possível contribuir com o projeto sem fins lucrativos comprando mais práticas (são baratas, menos de 5 dólares).
Este app ganhador de diversos prêmios possui 80 meditações guiadas, para utilizar a qualquer momento: trabalhando, viajando, em casa, indo dormir e muito mais.
Muito interessante as técnicas que destinam a treinar Mindfulness enquanto estamos online.
Disponível para iOS e Android – http://buddhify.com
Preço: 4,99 dólares
Este App foi criado por Russ Harris, autor do livro The Happiness Trap, que está traduzido no português como Liberte-se. Tecnicamente é um App da ACT, Terapia da Aceitação e do Compromisso, mas, na medida em que a ACT utiliza práticas de mindfulness, encontramos nesse App mais de 2 horas de práticas guiadas.
Também é um App excelente por conter diversas técnicas para descobrir e elucidar os nossos valores pessoais.
https://www.youtube.com/watch?v=mWTuT0Tsz6w
Disponível para iOS e Android – http://www.actcompanion.com
Preço: 11,99 dólares
Texto do App: The Mindfulness App ajuda você a reduzir o stress e aumentar o bem-estar. Pesquisas científicas comprovam que uma prática regular de 20 minutos traz efeitos significativos. Tente você mesmo!
Com o App, você estará sempre perto da paz interior e do alívio do stress. Devido aos seus benefícios e funções inteligentes o Mindfulness App subiu ao top das App Stores no mundo todo (em mais de 11 países).
Agora também inclui meditações de alguns dos maiores especialistas como Jon Kabat-Zinn, Eckhart Tolle, Jack Kornfield, Pema Chodron, Sharon Salzberg e outros.
O Mindfulness App pode ser usado por qualquer um, tanto por iniciantes como por praticantes experientes. É fácil de usar. Pode-se escolher diferentes tipos de meditação ou em silêncio. Você escolhe se deseja uma introdução ou por quanto tempo quer praticar.
Preço: 2,99 dólares –
https://itunes.apple.com/us/app/the-mindfulness-app/id417071430?mt=8
Sobre este App, escrevemos este post –
Sem tempo para praticar Mindfulness? Tem 1 minuto?
Como podemos ver, ainda existem mais opções em inglês do que em português. Se você tiver alguma outra sugestão de App, por favor, comente abaixo!
Exercício de Loving Kindness, Autocompaixão ou Prática da Gentileza (Mindfulness) narrado por Vitor Friary. A prática da compaixão, a si mesmo e ao mundo, tem sido evidenciado na literatura científica como eficaz para o bem estar psicológico.
Zindel Segal, autor do livro The Mindful Way Trough Depression fala sobre a utilização das práticas de Mindfulness para o tratamento completar da depressão.
“Nós chamamos o esforço de cultivar a nossa habilidade de estar no presente momento de prática ou prática de meditação mindfulness” (Jon Kabat-Zinn).
Olá amigos!
Vemos atualmente uma grande divulgação sobre as práticas de Mindfulness. Quem já tiver realizado um Programa de 8 Semanas, um Workshop intensivo ou buscou por conta própria através de livros como os de Jon Kabat-Zinn ou Mark Williams, terá descoberto que
Realizar as práticas de Mindfulness é simples, mas não é fácil.
O objetivo deste post é mostrar porque esta frase tem sentido (e porque ela também não tem). Esta frase tem sentido – para muitos de nós ou durante certo tempo – porque existem obstáculos ou desafios para praticar.
Todos os obstáculos abaixo pode ser sentidos durante ou antes das práticas, ou seja, podem também ser desculpas ou justificativas para não praticar.
Devemos entender que o objetivo primordial das práticas é aumentar a capacidade de estar atento ao momento presente, com aceitação e sem julgamentos.
Como o nosso estado emocional varia de um dia para o outro, em certos dias notaremos que há tranquilidade e em outros maior agitação.
Então, há a tendência de procurar fazer nos dias em que há maior tranquilidade e não fazer quando há maior agitação. Ou há a ideia de que quando fazemos e nossa mente encontra-se muito agitada, há algo errado e não estamos fazendo corretamente.
Tendo em vista – sempre! – que o objetivo é desenvolver a atenção ao que está ocorrendo agora, ficar desatento algumas vezes ou muitas não faz diferença. Devemos apenas notar que a nossa atenção se dispersou, quando dispersou, e voltar a atenção novamente para a âncora meditativa (a respiração, as sensações do corpo no Body scan, os passos na caminhada, etc).
O que quer que apareça, enquanto estivermos praticando, será o que aparece. Em algumas práticas, notamos a predominância de sensações agradáveis, ou sentimentos e pensamentos agradáveis e voltamos a atenção novamente para o foco.
Entretanto, em outras sessões, é comum notar dores, desconfortos e incômodos. A aversão a observar com curiosidade estas sensações (ou pensamentos e sentimentos desagradáveis) é um dos obstáculos para continuar praticando.
Assim, devido à tendência de buscar prazer e afastar da dor, algumas pessoas associam tais vivências desagradáveis com as práticas e param de realizá-las. Também pode haver aversão de olhar para os próprios conteúdos mentais, normalmente vinculados ao senso de identidade.
Sonolência ou torpor também podem aparecer durante as práticas de Mindfulness, especialmente em práticas que fazemos nos deitando (como o Body scan).
Se estivermos cansados e precisarmos descansar e dormir, podemos até utilizar uma prática de Mindfulness para dormir. Mas deve ficar claro que este não é o objetivo das práticas. De novo, o objetivo é treinar a atenção plena, estar mindful do que está acontecendo. Como dormindo perdemos a consciência e há o que os psicólogos chamam de rebaixamento do nível mental (abaissement du niveau mental), quando dormirmos não estamos praticado, por isso, a sonolência, o sono e o torpor são obstáculos a serem enfrentados.
Facilita fazer a prática escolhida de olhos abertos. Manter a mão um pouco levantada também ajuda, já que quando dormirmos a mão cai e nos desperta.
Mas o melhor é escolher um horário em que a sonolência seja mais improvável ou notar durante as práticas os pensamentos e julgamos que surgem nesse estado.
O obstáculo definido como desejo tem muito sentidos. Algumas pessoas desejam que a meditação lhe traga benefícios imediatos. Outras desejam ter estados alterados de consciência, transcendência ou algum tipo imaginado ou ideado de iluminação.
Novamente, o objetivo das práticas de Mindfulness é treinar a atenção ao momento. Muitos estados psíquicos podem ocorrer no processo, mas ter um desejo de que isto aconteça (uma sensação incrível seja ela qual for) ou aquilo não aconteça (uma dor ou desconforto ou uma lembrança irritante) pode ser um obstáculo para continuar praticando.
Dúvidas são obstáculos na medida em que podem impedir as práticas ou distrair a nossa capacidade de manter a atenção durante as mesmas. É interessante lembrar que a palavra dúvida surge da palavra dúbio, que, por sua vez, vem da palavra dois. Ou seja, quando duvidamos temos dois pensamentos, geralmente, conflitando.
Por exemplo, “eu consigo meditar ou eu não consigo meditar?”, “isso é assim mesmo ou não é assim?”, “devo fazer deste jeito ou não?”…
Quer dizer, dúvidas são apenas pensamentos sobre as práticas ou seus possíveis resultados e consequências. Por isso, ajuda muito fazer um Programa de 8 Semanas com um Instrutor qualificado. As dúvidas são dissipadas e deixam de ser um obstáculo para praticar, bem como os outros quatro obstáculos, inquietude, aversão, sonolência e desejo podem ser superados com a correta compreensão do que é Mindfulness.
Será que praticar as técnicas de Mindfulness significa tornar-se budista?
Uma questão que sempre surge quando vamos falar de Mindfulness, de Atenção Plena, é a sua relação com o budismo e com o Oriente.
É verdade que as técnicas meditativas vem do oriente e mais especificamente do budismo. (Entretanto, também sabemos que estas técnicas são muito anteriores ao Sidarta Gautama, o Buda histórico, que diz ter aprendido as técnicas de concentração e atenção com outros mestres).
Se considerarmos que o estado de atenção plena é uma função psíquica, um estado psicológico ou mental, não fará sentido designá-lo como budista ou hindu. Assim como não faz sentido dizer que os sonhos são freudianos, por exemplo.
Nas últimas décadas, devido às pesquisas científicas das Terapias Baseadas em Mindfulness, os benefícios sobre a prática de técnicas de Mindfulness e meditação tem se tornado mais claras. Isso acontece porque, até então, havia dúvida e receio da comunidade científica, especialmente da medicina e da psicologia, sobre os motivos pelos quais seriam indicadas as práticas, em virtude de sua origem supostamente religiosa.
Recomendo o vídeo Mindfulness veio do Budismo?, de Tiago Tatton:
De acordo com Ausiàs Cebolla i Martí, as primeiras pesquisas científicas de Mindfulness foram realizadas por Jon Kabat-Zinn a fim de comprovar a eficácia do Programa MBSR, Mindfulness para redução do Stress, aplicado à dor crônica (1982) e à ansiedade (1995), embora já houvessem pesquisas sobre o zen e a meditação transcendental antes, é comum demarcar o início do crescimento e divulgação das práticas de Mindfulness com Kabat-Zinn.
Tais pesquisas tinham por objetivo investigar a eficácia das práticas em determinadas doenças e transtornos mentais. Somente em uma segunda etapa é que os objetivos visaram entender os mecanismos psicológicos que acontecem no processo. Esta segunda etapa é normalmente creditada a Zyndel Segal, John Teasdale e Mark Williams.
Para praticar Mindfulness, e estar atento ao momento presente, não precisamos acreditar em karma, reencarnação, na iluminação do Buda, etc. Sabendo que estar atento ao momento presente traz benefícios físicos e mentais, podemos aprender e treinar como ficar mais neste estado sem ter que adotar todas aquelas crenças.
A Yoga é uma boa analogia. Existem estúdios e academias que dão aulas de Yoga. A ideia é promover o bem estar físico, o alongamento, controle da respiração, etc. Para praticar e ter os benefícios não é preciso acreditar nos iogues da Índia…
As técnicas de Mindfulness, por serem laicas, podem atrair um número maior de ocidentais e ser utilizada em diversos contextos. Depois de conhecer as possibilidades, as pessoas podem (ou não!) buscar as origens nas tradições.
Portanto, Mindfulness não é igual a budismo ou para praticar as técnicas de Mindfulness não precisamos ser budistas ou adotar o budismo. Tendo isso claro, é interessante saber também que existem Programas de 8 semanas, parecidos com os delineados por Jon Kabat-Zinn, que são baseados no budismo, MBTB ou Mindfulness Baseado na Tradição Budista.
Veja o vídeo abaixo (em espanhol).
Entrevista Dokushô Villalba MBTB from CreaConcepto on Vimeo.
Dúvidas, sugestões, comentários, por favor, escreva abaixo!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Jon Kabat-Zinn, um dos maiores especialistas em mindfulness no mundo ocidental, partilha conosco a sua definição operacional sobre o que é para ele mindfulness.
O que é o mindfulness? Por Jon Kabat-Zinn from Vasco Gaspar on Vimeo.
“A minha definição operacional de Mindfulness é: a consciência que emerge quando prestamos atenção de propósito no momento presente e sem julgamento” (Jon Kabat-Zinn)
Excelente vídeo sobre a essência das práticas de Mindfulness: observar a âncora meditativa (a respiração ou outra), perceber as distrações e, nesse momento mindful, voltar a atenção, de novo e de novo, para a prática:
Meditação para principiantes (Happify com Dan Harris) from Vasco Gaspar on Vimeo.
Saiba mais sobre “O que é Mindfulness” e sobre o que não é Mindfulness, através dos trabalhos da Psicóloga americana Ellen Langer, e seu conceito de Mindlessness:
“Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta” (Jung)
Olá amigos!
A pergunta: “Por que meditar (Mindfulness) é tão difícil?” é uma pergunta capciosa porque ela pressupõe que meditar, ou seja, praticar uma técnica de atenção plena não é fácil. Na verdade, é uma pegadinha tão grande como quem acha que meditar é não fazer nada…
Mas gostaria de responder a esta questão neste texto para mostrar os benefícios de estar e ser mais mindful, ou seja, ter plena atenção do que está acontecendo no momento presente. Portanto, vou mencionar algumas “dificuldades”, também com o objetivo de superar alguns mitos.
Para quem não sabe, as técnicas de Minfulness tem sido utilizadas já há algumas décadas dento da psicologia e da medicina. Então, em primeiro lugar, é importante desfazer certos preconceitos. Apesar de a origem ser budista (na verdade, é até muito anterior ao Buda Gautama), não há nada de religioso em meditar.
Em certo sentido, podemos até questionar em que medida o budismo deve ou não ser considerado uma religião. Afinal, Buda não quer dizer Deus e sim apenas “aquele que despertou”.
De toda forma, para não ter nenhum tipo de sectarismo, autores como John Kabat-Zinn retiraram toda e qualquer conotação religiosa das práticas, assim, as instruções para realizar as técnicas não fazem referência à sua origem histórica.
A técnica mais conhecida é sentar-se confortavelmente e prestar atenção na respiração. Na respiração porque a respiração é uma ponte entre os dois tipos de sistema nervoso, o sistema nervoso voluntário e autônomo. Em outras palavras, a respiração é uma função que conseguimos controlar conscientemente e uma função que também não está sob controle consciente. Na maior parte do tempo, nem notamos que estamos respirando ou como estamos respirando.
Outras instruções simples podem ser dadas: “se a sua atenção for para um pensamento, sentimentos ou outra sensação física, retorne a atenção para a respiração tão logo perceber, tranquilamente”.
Por estas instruções simples, é possível ver que não se trata de não fazer nada. Claro, não estamos fazendo alguma coisa no sentido usual, de agir no mundo, mas estamos prestando atenção ao que acontece na nossa psique, dentro de nós.
Se os dois principais preconceitos foram superados (o preconceito de que se trata de uma prática religiosa com a qual não se concorda e o preconceito de que se trata de não fazer nada), e a as práticas começam a ser realizadas, algumas das seguintes situações podem surgir:
– ter que lidar com questões não resolvidas;
– assumir responsabilidades;
– sair da posição de vítima;
– mudar hábitos mentais e comportamentais negativos;
– turbilhões emocionais;
– sono;
– dores físicas.
Um grande amigo meu, que me apresentou o vipassana, disse certa vez o seguinte: “Imagine uma pessoa muito especial. Pode ser a pessoa que você mais ama na vida ou a pessoa que você mais respeita e admira. Se você for católico, pode ser o Papa. Se você for budista, pode ser o Dalai Lama. Se você for evangélico, pode ser o pastor mais reconhecido. Enfim, imagine esta pessoa. Você não faria de tudo para poder ficar próximo desta pessoa especial por horas e horas?
Então, é curioso, porque no fundo, as pessoas não fazem 1 hora de meditação porque elas não se admiram tanto quanto admiram estas pessoas”.
É uma avaliação muito precisa. Como salientou Jung em seu livro Psicologia da Religião Oriental e Ocidental, nós, ocidentais, temos a tendência de colocar a “salvação” fora, ou seja, acreditamos que algo ou alguém vai nos ajudar, amar, trazer felicidade. A música Time, do Pink Floyd, diz: “Esperando por algo ou alguém para lhe mostrar o caminho” (Waiting for someone ou something to show you the way).
Além disso, esta avaliação acurada nos mostra que não queremos nos ver. Ao menos, queremos nos ver menos do que queremos ver outras pessoas que consideramos importantes. O que demonstra igualmente o nível de nossa autoestima e autocompaixão.
A primeira dificuldade é fácil de observar. Se você começa a prestar atenção na sua respiração, notará que muito rápido sua atenção vai ir até um pensamento, sentimento ou outra sensação. Lembro um dia, logo quando comecei: tive dificuldade para manter o foco porque antes tinha tido um problema ao fazer o meu óculos. A atendente tinha anotado que o meu grau era de hipermetropia e não de miopia. Um problema sem maiores consequências, mas que tinha me irritado.
De forma que logo que você começa a voltar a atenção para a respiração, surge um complexo – se quisermos utilizar a terminologia da psicologia analítica. Um complexo é um grupo de palavras ou imagens com emoções vinculadas. No exemplo acima, óculos, ótica, erro e as imagens na lembrança estavam ligadas a irritação.
Este é um pequeno complexo que realmente é pequeno. Mas, à medida em que vamos continuando a técnica, temos que lidar com questões mais profundas e cada vez mais profundas porque elas inevitavelmente vão aparecer. Não há como fugir e, talvez por isso, muitas e muitas pessoas tenham dificuldade para continuar com as técnicas.
Assumir responsabilidades é uma ideia ampla, com muitas conotações. Em resumo, podemos dizer que passamos a compreender que o que sentimos e pensamos é nossa responsabilidade. Tudo acontece dentro da nossa psique e, por mais que certos estímulos aconteçam concomitantemente, em última análise, a responsabilidade é nossa e não das situações ou das outras pessoas.
Um exemplo. Digamos que você esteja completamente apaixonado. É um dia muito bonito e tudo está dando certo. Porém, alguém te diz algo muito desagradável. O dizer, em geral, ia te deixar para baixo, mas você está tão bem que não liga. E volta a continuar se sentindo bem e apaixonado.
Isto demonstra que o nosso modo de reação nunca é estímulo-resposta automática. Ou melhor, não precisa ser.
Pode ser mais simples e fácil atribuir a culpa das nossas infelicidades aos outros. Só que é um beco sem saída: não conseguimos controlar o comportamento dos outros e, se as pessoas não fazem o que queremos, e se não percebemos que o nosso estado mental e emocional é nossa responsabilidade, daremos todo o nosso bem-estar ao acaso.
Eu posso ficar um dia, uma semana inteira irritado com a atendente da ótica e posso justificar a minha irritação pelo seu comportamento. Mas a verdade é que ela não tem poder para me fazer sentir mal. Sou eu quem atribuo a culpa a ela.
Esta outra dificuldade se relaciona com a questão de assumir responsabilidades. Com a auto-observação aumentada pelas técnicas da atenção plena passamos a ver como é sem sentido ficar se colocando na posição de vítima para conseguir a consideração das outras pessoas, piedade ou o que for. É um jogo sem sentido.
Sabe este tipo de pensamento? “Você fez isso para mim, logo, estou mal”. “Você disse isso para mim, por isso, estou infeliz…com raiva…triste…chateado…etc”
Quando as técnicas começam a ser realizadas com mais frequência, a tendência é cada vez mais deixar a posição de vítima. E muitas pessoas relutam contra isso, ou por ser uma atitude constante, um hábito ou por ser uma orientação frente aos problemas em seus relacionamentos.
Mas, como logo fica claro, ao deixar esta posição só surgem benefícios.
Um outro empecilho pode ser o medo de mudar os hábitos mentais e comportamentais. Na medida em que, com o tempo, há um aprofundamento – um olhar mais cuidadoso sobre si mesmo – é natural que mudanças comecem a acontecer. E, embora sejam mudanças positivas, existe a possibilidade de surgirem receios e dúvidas sobre a profundidade da mudança. O que pode ser resumido na frase: “se eu perder os meus (maus) hábitos, quem serei eu?”
A ideia que está por trás é que o eu ou a personalidade é uma entidade fixa, estável, permanente. Mas sabemos que este não é o caso. Se refletirmos no longo prazo, veremos que a vida inteira estamos mudando. Se não mudássemos, agiríamos ainda como um bebê.
Existem dias e dias. Em certos dias, estamos com a mente tranquila e pacífica, enquanto em outros dias passamos por turbilhões, tempestades, terremotos. Quando não estamos nos sentindo bem, quando estamos com raiva, com medo, com tristeza ou o que for, é muito comum justificar e não querer fazer a meditação.
O curioso é que é exatamente nestes momentos que mais precisamos…
Com o tempo, este tipo de dificuldade é superada pela compreensão de que as técnicas podem nos fazer passar por estes turbilhões e tempestades de uma maneira mais fácil.
Em certos momentos, as técnicas da Mindfulness Psychology podem levar a um rebaixamento do nível mental, ou seja, as ondas cerebrais mudam de frequência – o que pode ser sentido como sonolência e até levar ao sono.
Mas, se não dormirmos, poderemos começar a ver conteúdos dos quais tínhamos esquecido como sonhos e lembranças mais longínquas. Claro que o objetivo não é este, entretanto, é até certo ponto inevitável o surgimento de tais formas.
E, por fim, é muito comum ter que lidar com as dores físicas: dor na coluna, dor de cabeça, dor nas pernas. Óbvio que o objetivo não é também provocar dor através das posições básicas (sentado, deitado, andando, em pé) mas possibilitar a percepção de como lidamos com a dor ou com o desconforto.
Não raro, aumentamos a dor física ao colocar sobre ela as nossas dores emocionais: irritação, raiva, aversão, etc.
Para concluir, gostaria de deixar para reflexão o pensamento de Jung: “Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta”.