Conheça o monitor de discrepância, o modo ser e o modo fazer.
Olá amigos!
Podemos definir Mindfulness como atenção plena ao momento presente, com uma atitude de aceitação, não julgamento, abertura e curiosidade ao que está acontecendo aqui e agora. Assim definimos Mindfulness como o estado psicólogo de atenção; como uma qualidade que algumas pessoas tem ou desenvolvem de ficar cada vez mais neste estado (traço); e também usamos a palavra para designar práticas que visam aumentar o estado – como práticas de Mindfulness.
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Uma forma de definir Mindfulness é definir o seu oposto, Mindlessness, desatenção. Outra forma que utilizamos nos Grupos de Mindfulness ou individualmente através do Skype é mostrar a diferença entre o modo ser e o modo fazer.
O modo ser e modo fazer
No livro Mindfulness-base cognitive therapy for depression, os autores nos mostram que o modo fazer é um excelente método para resolver problemas ou criar e executar soluções. Por exemplo, se você compra um terreno, o momento presente é a observação de estar vendo em sua frente apenas um terreno. Imaginando que você queira construir uma casa, o modo fazer (que é tanto um modo mental como os comportamentos que o sucedem) vai te dizer o passo-a-passo para você sair do “estado-terreno” e chegar no “estado-casa”.
Se eu estou com sede e a água está na cozinha, o modo fazer vai me dar as coordenadas para me levantar, ir até a cozinha e beber a água ou simplesmente pedir para que alguém me traga a água. Há o estado atual e o estado desejado. O modo fazer entra para passar de um para outro.
Nas palavras de Zindel et al,
“Primeiro nós criamos uma ideia de como queremos que as coisas sejam, ou como nós pensamos que deveriam ser. Depois, nós comparamos com a ideia de como as coisas estão agora. Se existe diferença entre como as coisas estão e como nós queremos que elas estejam, então nós geramos pensamentos e ações para compensar a diferença. Nós monitoramos o progresso para ver se a diferença está diminuindo ou não, e nós ajustamos as ações de acordo. Nós sabemos que nós atingimos os nossos objetivos quando nossas ideias de como as coisas são coincidem com a ideia de como nós queremos que elas sejam”.
Não há nada de particularmente errado com o modo fazer. Sem esta característica dificilmente conseguiríamos viver bem, ou talvez nem conseguiríamos manter a nossa própria vida. O problema com o modo fazer é quando não há nada que possa ser feito, agora.
Os autores citam o exemplo do fim de um relacionamento. Com o término, haverá certamente uma discrepância entre a realidade e talvez a forma como nós queríamos que as coisas fossem: ou que o relacionamento não tivesse acabado ou que um relacionamento novo e mais saudável surgisse. Nesse sentido, é comum surgirem pensamentos de ruminação sobre “como o eu é imprestável, não consegue ninguém” ou “nunca será feliz no amor” ou pensamentos catastróficos do gênero. Todos estes pensamentos são tentativas de solução do problema, estar sozinho no momento, mas, ao invés de passar do estado atual para o estado deseja, não são uma solução de verdade, nem demonstram um passo a passo.
O modo fazer no que possui de negativo é também chamado de o modo fazer direcionado (driven-doing mode). É relativamente fácil de notar a sua presença através de palavras como: deveria, tinha que, precisava ser…assim ou assado.
E, mais importante, o modo fazer direcionado (driven-doing mode), o lado negativo do modo fazer, consiste “na recorrente sensação de insatisfação, refletindo o fato de que a mente está focada em processar a diferença entre como nós queremos que as coisas sejam e como elas estão sendo agora”.
Um outro exemplo é um atraso. Imagine que você está esperando uma pessoa querida. Você coloca em sua mente a ideia – por terem combinado – de que esta pessoa deveria (note bem a palavra) estar em sua frente às 18:00. Mas você olha no relógio e já são 18:10 e a pessoa não apareceu. Dez minutos não são nada, mas você vai sentindo cada vez mais a insatisfação em seu corpo…
Esta presença não raro frequente na vida é o monitor de discrepância, a percepção, “O que está errado agora?
“O monitor de discrepância é o processo que constantemente monitora e avalia o eu e a situação corrente contra um modelo ou padrão – uma ideia do que é desejado, requerido, esperado ou temido. Uma vez que o modo de discrepância é ativado, ele vai encontrar as diferenças entre como as coisas são agora ou estão sendo e o modo como nós pensamos que as coisas deveriam ser ou estar. Este é o seu trabalho”.
Deste modo, o modo fazer tem a sua função em nos levar aonde queremos e mudar o que não queremos. Porém, em muitas e muitas e muitas situações não há muito ou quase nada a ser feito agora para alterar uma situação indesejada. Nestas fases, se o modo fazer estiver ativado, vai apresentar o seu lado negativo e toda hora vai ficar monitorando o que está errado, o que não deveria ser, o que não podia ser, seja o outro, um fato ou nós mesmos.
Nestes momentos em que não há nada a fazer, podemos mudar o nosso foco e passar ao modo ser. O modo ser consiste em aceitar, em permitir – que eu, o outro ou a situação – seja como está sendo. Afinal, está sendo… e não há nenhuma pressão para que as coisas sejam diferentes do que são nesse momento.
“No modo ser, a mente não tem nada a fazer, nenhum lugar para ir e pode focar na experiência momento-a-momento, permitindo-nos estar totalmente presentes e conscientes do que é aqui e agora”.
Com as práticas de Mindfulness, conseguimos entrar no modo ser quando não há nada a fazer, portanto. Retiramos da nossa vida sofrimentos inúteis ou desnecessários e aumentamos o nosso nível de bem estar.
Conclusão
Talvez a maior ilusão – compartilhada por quase todos – é supor que as situações não poderiam ser como são, de que tudo deveria ser como desejamos e não como como está sendo, ou seja, que a realidade se encaixasse exatamente com nossas criações mentais.
É curioso porque o que está sendo é consequência de uma infinidade de ações passadas, nossas e de outras pessoas. Não dá para voltar atrás e mudar tudo isso, portanto o presente já é. O que não significa que não possamos mudar as nossas ações agora e aos poucos ir criando outras consequências.
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Referência Bibliográfica
Zindel, V. Segal, J. Mark Williams, John D. Teasdale. Mindfulness-Based Cognitive Therapy for Depression, Second Edition. Kindle-Edition.